Londres/Washington – 15 de agosto de 2022: Nova investigação da Global Witness mostra que o Facebook não foi capaz de detectar anúncios com desinformação sobre as eleições antes do pleito de 2022 no Brasil. Esses anúncios continham informações falsas sobre as eleições, incluindo datas erradas e métodos de votação inexistentes no país, o que poderia levar muitas pessoas a deixar de votar, além de questionamentos sobre a integridade da eleição.  

A Global Witness enviou dez anúncios em português do Brasil contendo desinformação eleitoral e, para nossa preocupação, 100% deles tiveram sua publicação aprovada pelo Facebook. Todos os anúncios enviados violavam as políticas de anúncios eleitorais da Meta e as diretrizes da comunidade. É alarmante que tenhamos conseguido enviar os anúncios de fora do Brasil, e que nossa conta de anúncios não tenha sido verificada como um anunciante político brasileiro, ignorando as salvaguardas de autorização de conta que o Facebook alega ter.   

Um anúncio direcionado a grupos indígenas e contendo uma data de votação errada foi inicialmente rejeitado pela política de “anúncios sobre temas sociais, eleições ou política” do Facebook. Mas, apenas seis dias depois, sem qualquer intervenção da Global Witness, o anúncio foi aprovado sem explicação. Essa sequência bizarra de decisões do Facebook levanta sérias dúvidas sobre a integridade de seus sistemas de moderação de conteúdo. 

“O Facebook sabe muito bem que sua plataforma é usada para espalhar desinformação eleitoral e solapar a democracia em todo o mundo”, disse Jon Lloyd, consultor sênior da Global Witness. “Apesar dos autoproclamados esforços do Facebook para combater a desinformação – particularmente em eleições de alto risco – ficamos chocados ao ver que eles aceitaram todos os anúncios com desinformação eleitoral que enviamos no Brasil.”

É um padrão semelhante ao que vimos em Mianmar, Etiópia e Quênia com relação à incapacidade do Facebook de detectar discurso de ódio em ambientes políticos voláteis. O que é diferente desta vez é que os anúncios possuem conteúdo totalmente falso (como a data errada da votação) e informações destinadas a desacreditar o processo eleitoral, o que prejudica a própria integridade das eleições no país. É importante ressaltar que alguns dos anúncios também questionavam a integridade das urnas eletrônicas brasileiras, com mensagens que repetiam a narrativa do atual presidente Bolsonaro sobre possíveis fraudes, já preparando o terreno para contestar o resultado da eleição. 

A desinformação eleitoral continua a se espalhar rapidamente pelo Brasil. Alguns grupos políticos estão lançando as bases para promover agitação e violência e contestar os resultados usando táticas semelhantes à campanha de desinformação “Stop the Steal” nas eleições americanas de 2020. 

“A desinformação que o Facebook permite compartilhar em sua plataforma alimenta a narrativa do 'stop the steal' no Brasil, uma tática crescente destinada a preparar o terreno para contestar os resultados das eleições, com risco de violência semelhante à que vimos durante a insurreição de 6 de janeiro nos EUA”, diz Lloyd. “O Facebook pode e deve fazer melhor. Não adianta dizer que contrataram milhares de moderadores de conteúdo e investiram em detecção por meio de inteligência artificial se isso não está funcionando. Eles precisam mostrar serviço.”

“Esta investigação mostra que a Meta prioriza o lucro em detrimento da proteção das democracias do Sul Global. A empresa se mostra incapaz de controlar o uso de sua plataforma para disseminar notícias falsas, e isso tem um impacto negativo direto em nossa democracia”, afirma João Brant, coordenador da plataforma Desinformante no Brasil.

“Estas serão as primeiras eleições gerais desde que Bolsonaro chegou ao poder em 2018. Durante seu governo, o mundo viu aumentar o desmatamento na Amazônia e o número de defensores ambientais assassinados. O pleito deste ano é crítico – o povo brasileiro e o nosso planeta dependem de uma eleição limpa e justa”, disse Lloyd. “O Facebook deve enfrentar urgentemente a desinformação que prolifera em sua plataforma para evitar o risco de interferência eleitoral, desinformação, agitação e violência no Brasil.”

Um porta-voz da Meta afirmou em resposta às nossas conclusões que " eles estão e têm estado profundamente empenhados em proteger a integridade eleitoral no Brasil e em todo o mundo". Afirmaram que se prepararam muito para as próximas eleições no Brasil, incluindo o lançamento de ferramentas para classificar as postagens relacionadas com as eleições e o estabelecimento de um canal direto para que o Tribunal Superior Eleitoral lhes envie conteúdos potencialmente prejudiciais para revisão. Citaram o número de postagens que foram removidas nas últimas eleições por violarem as suas políticas. A resposta completa está incluída nas notas finais. [1].

A Global Witness exorta o Facebook a:   

  • Aumentar urgentemente sua capacidade de moderação de conteúdo e sistemas de integridade – incluindo melhorias no processo de autorização de contas – e garantir que os moderadores entendam o contexto cultural e as nuances da política brasileira.
  • Permitir auditoria independente de terceiros para que a Meta tenha de prestar contas pelo que alega estar fazendo.
  • Responder às recomendações de políticas de mais de 90 organizações da sociedade civil brasileiras em seu relatório O papel das plataformas digitais na proteção da integridade eleitoral em 2022


Notas 

 [1] A resposta completa do Facebook à nossa carta de oportunidade para comentar:: “We cannot comment on these findings as we don't have access to the full report. However, we prepared extensively for the 2022 election in Brazil. We’ve launched tools that promote reliable information and label election-related posts, established a direct channel for the Superior Electoral Court to send us potentially-harmful content for review, and continue closely collaborating with Brazilian authorities and researchers. Our efforts in Brazil’s previous election resulted in the removal of 140,000 posts from Facebook and Instagram for violating our election interference policies and 250,000 rejections of unauthorized political ads. We are and have been deeply committed to protecting election integrity in Brazil and around the world.”