A Global Witness analisou as respectivas guias
de trânsito animal e confirmou que os nomes e CPF de Sergio Luiz e seu filho
não foram mais usados para enviar gado para a empresa após aquele mês. Ainda assim, outros Seronni começaram a
aparecer com mais frequência na documentação do gado comprado pela JBS.
Entre
abril e agosto de 2021, Maria Aparecida Xavier Seronni, Sirlane Honorato
Seronni e Gustavo Seronni aparecem com mais frequência. O trio enviou um total
de 426 reses para a JBS a partir das mesmas fazendas de propriedade de pai e
filho envolvidas em lavagem de gado e trabalho escravo e que a empresa alegou
ter bloqueado: Fazendas Boca do Monte e Terra Roxa, respectivamente. Uma das maiores empresas de carne bovina do mundo mais uma vez acabou
comprando gado de fazendas que não cumprem suas obrigações legais, apesar dos
avisos.
Quando isso foi apresentado à JBS, a empresa
disse que os Seronni estavam “usando vários membros da família para continuar
vendendo para a JBS”.
“Em linha com essas novas informações, a
empresa bloqueou Sirlane Honorato Seronni, Gustavo Seronni e várias outras
possíveis conexões com eles. Vários CPFs e fazendas também foram bloqueados
preventivamente até que possamos confirmar se estão ou não vinculados à família
Seronni”.
A empresa acrescentou: “Não toleramos esse
comportamento e bloqueamos preventivamente quem age de má fé assim que essas informações
são disponibilizadas. Infelizmente, esse episódio mostrou que mesmo quando há
uma propriedade e um produtor aptos a fornecer de acordo com os termos dos
protocolos e políticas já utilizados pela JBS e outras empresas do setor,
alguns fornecedores podem estar burlando deliberadamente os critérios
socioambientais e o sistema de monitoramento da JBS”.
A declaração continua: “Para apurar este e
outros casos, a JBS estabelecerá um Comitê de Auditoria de Fornecedores para
verificar os fatos e orientar a decisão da empresa. Durante a investigação, o
produtor permanecerá preventivamente bloqueado para novas compras e terá a
oportunidade de apresentar suas explicações”.
O estudo do caso Seronni
ilustra a negligência da JBS ao continuar comprando gado de 144 fazendas que a
Global Witness averiguou conterem desmatamento ilegal na Amazônia. E essas
compras são apenas a ponta do iceberg em comparação com as centenas de fazendas
que deveriam estar sendo monitoradas a montante da cadeia de abastecimento – os
chamados fornecedores indiretos.
Uma nova análise da Global Witness revela que em 2020, somente no Pará, 470 dessas fazendas continham cerca de 40.000 campos de futebol de desmatamento ilegal. Mais uma vez, isso viola o acordo da empresa com o Ministério Público.
Pior ainda, 1.600 fornecedores indiretos da JBS continham cerca de 57.000 campos de futebol desmatados, legalmente ou não. A JBS se comprometeu a monitorar seus fornecedores indiretos na Amazônia desde 2009, mas agora disse que só o fará totalmente até 2025 – e apenas para casos de desmatamento ilegal.
A análise da Global Witness também se limita a apenas um estado da
Amazônia, entre os muitos em que a JBS atua. Ninguém sabe quantos casos como os
dos Seronni estão escapando de seus controles em outros ecossistemas como Cerrado,
Pantanal, Caatinga e Mata Atlântica.
A JBS respondeu dizendo
que reconheceu as compras de gado de 143 das fazendas mencionadas. Acrescentou
que 96 desses fornecedores solicitaram a adesão a um programa implementado pelo
estado do Pará para garantir o cumprimento da legislação ambiental.
A empresa
disse ainda que outras 41 fazendas tinham áreas de desmatamento menores que
6,25 hectares e que, portanto, poderiam ser fornecedoras da JBS de acordo com
seus compromissos. Acrescentou que em seis casos o desmatamento nessas fazendas
foi encontrado em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, mas que
esses dados não haviam sido usados pela empresa para monitorar a situação dos
fornecedores.
Sobre fornecedores
indiretos, a empresa informou que em 2021 criou um
sistema para monitorar os “fornecedores de seus fornecedores, sempre
respeitando o sigilo dos dados exigido pela legislação brasileira. Por isso, a
implementação dessa ferramenta requer o engajamento dos produtores, que
precisam cadastrar voluntariamente suas informações”, disse a JBS.
A empresa
afirmou que até 2025 toda a sua cadeia de abastecimento estará nesta plataforma
e que “uma parte essencial desta estratégia é a implementação de 15 green offices que visam auxiliar os
produtores em ações ambientais críticas no nível das fazendas, para que possam
produzir preservando o bioma. Qualquer fornecedor não cadastrado até lá não
poderá mais fornecer para a JBS”.
Apesar dessa série de problemas, grandes
empresas globais de alimentos e finanças continuam fazendo negócios com a JBS.