Introdução
Defensores da terra e do meio ambiente arriscam a vida defendendo os direitos de suas comunidades contra atividades econômicas destrutivas. Muitas vezes, eles são a última linha de defesa do planeta, soando o alarme sobre ameaças à própria existência da humanidade.
O esforço desses defensores os expõe a diversos perigos à sua segurança e bem-estar. Todos os anos, a Global Witness documenta esses ataques. Em nosso relatório de 2024, revelamos que 196 pessoas foram assassinadas por defender suas terras e suas casas. Muitas outras foram sequestradas, criminalizadas e silenciadas.
É comum que esses defensores dependam de plataformas digitais para se organizar, compartilhar informações e promover suas campanhas. Nos últimos anos, esses espaços online se tornaram os principais canais de comunicação de muitos defensores com seus públicos, sendo frequentemente utilizados para organização comunitária. No entanto, hoje sabemos que os defensores sofrem ataques consideráveis na internet, incluindo casos de trolling (provocações e mensagens ofensivas), doxxing (exposição de dados pessoais) e ataques cibernéticos.

Indígena fotografa outro membro da comunidade após uma marcha de protesto pelos direitos territoriais indígenas no Brasil. Mario Tama / Getty Images
A Global Witness realizou uma pesquisa global – a primeira desse tipo – para entender as experiências dos defensores na internet. Descobrimos que ataques virtuais são muito comuns entre os defensores que participaram da pesquisa. Além disso, esses ataques também costumam causar danos fora da internet, com episódios de assédio, violência e prisões.
Esses eventos não só prejudicam o bem-estar dos defensores, mas também têm um efeito negativo no movimento climático como um todo. Muitos defensores relataram perda de produtividade e, em um caso, até mesmo o encerramento completo de seu ativismo devido aos ataques.
Nossa pesquisa mostra os desafios que os defensores enfrentam nas redes sociais.
A situação é tão grave que 91% dos defensores que responderam à pesquisa disseram acreditar que as plataformas digitais deveriam fazer mais para tentar garantir sua segurança e a de suas comunidades.
Não precisa ser assim. Os modelos de negócios das empresas donas das redes sociais priorizam o lucro em detrimento da segurança dos usuários, mas elas podem e devem fazer mais para ajudar a proteger essas pessoas, investindo adequadamente em transparência algorítmica, moderação de conteúdo e recursos de segurança e integridade.
Iniciativas desse tipo poderiam não apenas aumentar a segurança dos defensores na internet, mas também beneficiariam outros usuários no mundo todo.

Indígena usa o celular para documentar o Acampamento Terra Livre em Brasília. Cícero Pedrosa Neto / Global Witness
Nota sobre a amostra: pesquisa com defensores da terra e do meio ambiente
Defensores da terra e do meio ambiente são um grupo difícil de ser alcançado em massa. Muitas dessas pessoas têm preocupações de segurança muito reais e imediatas que exigem todo o cuidado na hora de discutir seu ativismo. Nenhuma empresa de pesquisa profissional tem um painel de defensores para subsidiar esse tipo de trabalho.
Assim, tivemos que entrar em contato manualmente com as organizações de defensores por vários meios e fazer o melhor para garantir que o maior número possível de pessoas de diversos lugares respondesse à nossa pesquisa.
Reconhecemos que nossa amostra de pesquisa não é, portanto, representativa de todos os defensores e, dada a natureza da pesquisa, não buscamos verificar a exatidão de todas as declarações.
Este relatório é o primeiro do gênero a focar especificamente nas ameaças digitais enfrentadas pelos defensores da terra e do meio ambiente e no papel das redes sociais nesse cenário. Nós nos baseamos em nossas próprias redes de contatos para falar com centenas de defensores mundo afora.
Este relatório é um esforço importante para revelar a natureza dos danos sofridos na internet pelas pessoas que estão na linha de frente do movimento climático. Ele representa mais uma peça do quebra-cabeça para entender a luta contra o colapso climático.
As histórias chocantes e inéditas contadas aqui devem motivar ações reais por parte das redes sociais, que muitas vezes não fazem nada diante de relatos de abusos.
Como os ataques virtuais a defensores da terra e do meio ambiente prejudicam a luta contra a crise climática
Ataques generalizados
Muitos defensores da terra e do meio ambiente são atacados na internet
Cerca de 92% dos defensores que responderam à pesquisa disseram que já sofreram alguma forma de ataque ou assédio online como resultado de seu trabalho.
Os danos que esses defensores relatam sofrer na internet vão desde ataques públicos nas redes sociais até doxxing e ataques cibernéticos.
Doxxing
Doxxing (corruptela de ‘dropping docs’) é o ato de revelar publicamente informações privadas ou pessoalmente identificáveis de alguém sem seu consentimento, normalmente com intenções maliciosas. Essas informações podem incluir nomes reais, endereços, números de telefone, detalhes do local de trabalho, informações financeiras e até mesmo detalhes de familiares.
O doxxing pode ser usado como uma forma de assédio e intimidação e pode ter consequências sérias, como perseguição, roubo de identidade, swatting (fazer uma chamada de emergência falsa para enviar a polícia à casa de alguém) ou violência física. É considerado antiético e ilegal em muitas jurisdições.
Cyberattacks
Ataques cibernéticos são tentativas maliciosas de interromper, danificar ou obter acesso não autorizado a sistemas de computadores, redes ou dados. Esses ataques podem assumir muitas formas, incluindo:
- Phishing (enganar alguém para que a pessoa forneça informações confidenciais).
- Malware (software malicioso, como vírus ou spyware).
- Hackeamento e violações de dados (obter acesso não autorizado para roubar, alterar ou destruir informações).
Esse tipo de ataque pode ter um impacto profundo, e muitos defensores relatam sentimentos de medo e ansiedade, tanto por si próprios quanto por suas comunidades. Quase dois terços dos defensores que responderam à pergunta sobre o impacto dos ataques sofridos disseram que temiam por sua segurança e quase metade relatou perda de produtividade.
Isso significa que há um risco real de que esses ataques online estejam impactando o ativismo dos defensores e dificultando o avanço de ações e soluções climáticas.
Algo claramente precisa mudar, e as plataformas nas quais muitos desses ataques ocorrem devem assumir parte da responsabilidade.
Quando analisamos mais profundamente os dados da pesquisa, algumas tendências bastante perturbadoras se destacam.

Ativistas da Extinction Rebellion marcham por Berlim vestidos de bilionários, incluindo dos CEOs das grandes empresas de tecnologia Elon Musk e Mark Zuckerberg. Sean Gallup / Getty Images
Um problema do Facebook
Defensores dizem que sofrem mais ataques no Facebook do que em qualquer outra plataforma
Globalmente, o Facebook é a plataforma na qual o maior número de defensores afirmam ter sofrido ataques. Em seguida, aparecem o X e o WhatsApp. O Instagram é a quarta plataforma mais usada para esse tipo de ataque.
Facebook, WhatsApp e Instagram são todos de propriedade da Meta.
Esses resultados podem, em parte, refletir a popularidade geral de cada plataforma (com mais de 3 bilhões de usuários ativos mensais, o Facebook é a maior rede social do mundo).
No entanto, nossa pesquisa revelou que 82% dos defensores que afirmam ter sofrido ataques online dizem que isso aconteceu em pelo menos uma das três plataformas da Meta.
Com base nesses dados, a Meta tem a enorme responsabilidade de encontrar maneiras de lidar com a violência cometida contra os defensores nas suas redes sociais.
Os resultados mudam ligeiramente quando comparamos as respostas de diferentes regiões. Por exemplo, na Europa, os ataques relatados em nossa pesquisa são quase tão comuns no X quanto no Facebook.
De acordo com a pesquisa, o X também tem sua parcela de responsabilidade, já que é um espaço em que também se comete violência contra os defensores.
Apresentamos abaixo uma série de relatos de defensores que concordaram em falar conosco após concluir nossa pesquisa. Esses relatos refletem a experiência pessoal de cada um e estão apresentados em suas próprias palavras.
Fanø, Dinamarca
‘Faz cinco anos que comecei a participar de diferentes grupos de ativistas climáticos na Dinamarca. Cuidei das redes sociais, da logística e da divulgação da Extinction Rebellion. Como parte desse trabalho, muitas vezes organizei as lives que fizemos durante nossos protestos. Por isso, era eu que monitorava o chat durante as transmissões ao vivo e respondia às perguntas na nossa página do Facebook.
Mais de uma vez, as pessoas nos ameaçaram durante essas lives. Algumas ameaças eram tão graves que tirei prints das telas para poder denunciá-las. Eram coisas como ‘se eu estivesse aí, atropelaria todo mundo’ ou ‘é por isso que eu tenho uma espingarda’.

Comentários reais feitos nas transmissões ao vivo de uma ativista climática no Facebook incluíram: ‘É só jogar gasolina neles que eles se mexem’, ‘Experimentem ficar na frente do meu carro quando eu estiver com pressa’
Denunciei as ameaças ao Facebook, que disse que investigaria, mas aparentemente nada foi feito.
Esses ataques virtuais me deixam com medo e com raiva. Acho muito difícil entender que as pessoas não conseguem ver que estamos tentando ajudar. Penso comigo mesma: nós, pessoalmente, não ganhamos nada com isso. Nossa intenção é ajudar as pessoas e o planeta. É desanimador.
O Facebook deveria impedir as pessoas de enviar esse tipo de ameaça, mas parece que está indo na direção oposta. Parece que agora as pessoas são completamente livres para fazer qualquer coisa, até mesmo ameaças de morte.’
Preparando o terreno para danos no mundo real
Ataques na internet levam a ataques no mundo real
Outra tendência que pudemos observar nos resultados da pesquisa e em entrevistas posteriores é que os defensores que relatam terem sido vítimas de ataques online também relatam ataques no mundo real. Eles mencionam ataques a amigos e familiares e violência física.
Dos participantes da nossa pesquisa que relataram ter sofrido danos no mundo real por defenderem sua casa, o meio ambiente e/ou o clima, 75% acreditam que os ataques na internet contribuíram direta ou parcialmente para esses episódios de violência fora da internet.
A proporção de defensores que sentem isso é ainda maior quando olhamos apenas os dados de certas regiões: 84% dos defensores na África, América Latina e Ásia que relataram ter sofrido danos fora da internet dizem que acreditam que a violência online contribuiu “diretamente” ou “de alguma forma” para a violência offline.
A maioria das entrevistas que realizamos também aborda essa questão, com vários defensores destacando que acreditam que os agressores utilizam a internet para tentar envergonhá-los e minar sua credibilidade, antes de partir para ataques no mundo físico.

Sharanya, 2025. Jonas Kako / Panos Pictures
Sharanya, Índia
‘Trabalho com ONGs na região de Odisha, Índia, há mais de 20 anos. É uma região muito rica em bauxita, por isso há muitos projetos de mineração ali que foram implantados à força pelo governo, às vezes usando poder militar. Junto com outras pessoas, estive ao lado de comunidades indígenas que se opõem a esses projetos de mineração. São comunidades que estão lutando por seus direitos à terra, contra tentativas de expulsão e o assédio da polícia.
Essa resistência foi tratada com violência. Usamos as redes sociais para documentar as agressões, bem como a destruição ambiental causada por esses projetos. Por exemplo, postamos alguns vídeos na nossa página do Facebook mostrando manifestantes sendo espancados e outros mostrando as mineradoras despejando rejeitos tóxicos em rios que abastecem as comunidades locais.
Por conta disso, fomos atacados na internet e fora dela. Por exemplo, quando ajudamos a organizar um protesto contra um projeto de mineração, tiraram fotos nossas e as divulgaram no WhatsApp, nos acusando de manipular comunidades indígenas e expondo informações pessoais, como nossos endereços residenciais.

Tratores operando em uma mina de bauxita na região de Odisha, Índia. IndiaPicture / Alamy Stock Photo
Depois desses ataques online, a polícia apareceu na nossa porta, nos chamou de criminosos e nos acusou de invasão de propriedade.
Além disso, quando postamos notícias no Facebook, bots e trolls inundam nossa página com ofensas, dizendo coisas do tipo “vocês são paus-mandados, estão recebendo dinheiro, estão sendo pagos por outras empresas”. Chegam ao absurdo de nos acusar de racismo, dizendo que queremos manter os povos indígenas isolados na floresta, usando apenas roupas íntimas.
Eles dizem que deveríamos ser presos. Também atacaram minha família, acusando meu pai e minha irmã de crimes graves que eles não cometeram. Disseram que meu pai havia molestado uma funcionária e que minha irmã havia desviado dinheiro, mas nada disso é verdade.
São sempre os mesmos nomes, as mesmas pessoas comentando, toda vez que postamos alguma coisa.
Já denunciei alguns desses ataques ao Facebook. Eu me lembro de ter recebido uma resposta muito vaga, do tipo “estamos analisando sua denúncia”, mas nada aconteceu depois.

Sharanya, 2025. Jonas Kako / Panos Pictures
Fizemos uma campanha visando uma mineradora que alegava estar ajudando a comunidade local ao enviar crianças indígenas para uma escola particular “de graça”, com a condição de que suas famílias não comparecessem a nenhum protesto antimineração. Depois disso, fomos trollados no Facebook por quase um ano.
Fomos chamados de extremistas de esquerda, e nossos acusadores chegaram ao ponto de fazer boletins de ocorrência contra nós. Espalharam a mentira de que fomos armados até a casa dessas crianças e ameaçamos as famílias, dizendo que íamos “matar todo mundo”. Apresentamos provas para mostrar que não era verdade, mas os processos ainda estão abertos, anos depois.
Outros amigos e colegas foram tratados de forma ainda pior: foram expulsos da região. Mulheres foram ameaçadas de estupro e ouviram que seriam presas caso não fossem embora imediatamente.

Sharanya, 2025. Jonas Kako / Panos Pictures
Acredito que existe uma relação entre o que acontece online e offline. Os agressores usam a internet como ferramenta de difamação, de exposição e humilhação, e depois recorrem ao mundo físico para nos ameaçar e intimidar, nos perseguindo e depredando nossas casas.
Eles estão tentando nos silenciar. Essas são táticas e estratégias que eles usam para tentar nos difamar, destruir e assustar.
E é claro que isso nos afeta. É claro que ficamos com medo. Mas, por enquanto, sabemos que somos um grupo. Por isso, ficaremos juntos.’

Relato e resposta reais reproduzidos de uma publicação feita por um defensor na plataforma da Meta
Plataformas não fazem nada
Defensores dizem que plataformas não respondem a denúncias de forma eficaz
Nossa pesquisa descobriu que apenas 12% dos defensores que denunciaram ataques e assédio às plataformas estão satisfeitos com a resposta que receberam.
Quase três quartos dos defensores dizem que já denunciaram casos de ataques e assédio.
Destes, dois terços dizem que as plataformas responderam ‘até certo ponto’.
Além disso, parece que as plataformas digitais podem estar priorizando seus recursos para proteger os defensores em algumas regiões em detrimento de outras.
A frequência com que os defensores denunciaram os abusos sofridos às plataformas é relativamente constante entre as diferentes regiões do mundo.
Mas quando perguntamos aos defensores que fizeram denúncias com que frequência eles receberam respostas, 18 de 25 entrevistados europeus (72%) disseram que receberam pelo menos algum tipo de resposta.
Enquanto isso, apenas 9 dos 18 entrevistados africanos (50%) dizem o mesmo.
Essa aparente disparidade nos recursos de moderação ecoa descobertas anteriores da Global Witness, como nossas investigações que mostraram que o Facebook é péssimo em detectar discurso de ódio na Etiópia, Quênia, África do Sul e Mianmar.
Isso é ainda mais preocupante quando consideramos a natureza das ameaças e seus impactos. Defensores na África e na Ásia relatam temores pela própria segurança com mais frequência do que em outras regiões, e defensores na África reportam altos índices de ameaças de violência física e de morte.
Warom, Bacia do Congo
‘Faz quase três anos que eu trabalho com defensores ambientais na Bacia do Rio Congo para ajudar a defender os direitos territoriais dos indígenas e fazer valer as iniciativas de proteção ambiental na região.
Sou responsável pelas comunicações climáticas e ambientais de uma ONG local, apoiando ativistas que estão na linha de frente. Também trabalho com alguns jornalistas em uma estação de rádio, onde conscientizamos os ouvintes sobre questões ambientais e de direitos humanos.
No momento, estamos fazendo campanha contra o desmatamento ilegal em nossa região e conscientizando a população sobre a situação do oleoduto da África Oriental, um projeto que afetará muitas aldeias e comunidades indígenas na Tanzânia e em Uganda.
Como parte do nosso trabalho, documentamos e expomos abusos relacionados a grilagem de terras e exploração predatória de recursos. Já vimos terras indígenas sendo griladas e comunidades sendo expulsas e deslocadas sem o devido consentimento ou compensação.
Por conta dessa atividade, acreditamos que estamos sendo vigiados por meio de grampos telefônicos, monitoramento de nossa comunicação online e outros tipos de espionagem digital. Acreditamos que essa vigilância seja realizada tanto por agentes estatais quanto por empresas privadas.

Jealousy Mugisha recusou-se a deixar sua casa para abrir caminho para o oleoduto EACOP sem receber uma compensação adequada. Ele foi processado e obrigado a aceitar uma indenização que considera muito baixa. Jjumba Martin / Global Witness
Além disso, plataformas digitais são usadas para espalhar desinformação sobre nós. Fomos falsamente acusados de terrorismo e de receber pagamentos ilegais de organizações estrangeiras em troca do nosso trabalho.
Nossos agressores usam muitas plataformas diferentes para espalhar mentiras: às vezes, o WhatsApp, às vezes, o YouTube, além de mensagens de texto e difamação em programas de rádio.
Vou dar alguns exemplos. Em 2022, um grupo de pessoas tentou proibir nossa estação de rádio de funcionar porque estávamos divulgando informações para ajudar as comunidades locais a manter a posse legal de suas terras.
Espalharam mentiras dizendo que queríamos tomar as terras para nós. Fizeram ameaças no Twitter e no WhatsApp, dizendo que planejavam matar a mim e a dois dos meus colegas. Disseram que nos espancariam se aparecêssemos na comunidade e que nos processariam e criminalizariam.
Foi terrível, porque minha esposa não podia nem ir ao mercado sem que eu visse de quem ela estava comprando.
Em 2023, alguém invadiu minha conta do WhatsApp e usou meu nome para espalhar desinformação. Fingiram que eram eu e disseram coisas horríveis, o que começou a colocar a comunidade contra mim. Todo esse processo foi muito prejudicial, e eu precisei da ajuda de um psicólogo para superá-lo.
Denunciamos algumas das ameaças às plataformas. Em alguns casos, tivemos uma resposta boa – o WhatsApp ajudou quando denunciei a invasão da minha conta e me ajudou a recuperá-la. Outras vezes, não obtivemos resposta.
Esse assédio online nos afetou profundamente. Às vezes, esse tipo de coisa nos deixa desanimados e inseguros. Nosso trabalho começa a ficar muito perigoso, e nós sentimos medo de morrer.’

Mulher passa por uma instalação petrolífera em Buliisa, um dos lugares mais perigosos para defensores da terra e do meio ambiente em Uganda. Jjumba Martin / Global Witness
Um modelo de negócios perigoso
O modelo de negócios das redes sociais é apontado como fator agravante dos danos
Outro tema que surgiu dos resultados da nossa pesquisa é que os defensores acreditam que os modelos de negócios adotados pelas plataformas digitais estão contribuindo para os danos causados a eles.
Quase dois terços dos defensores que relatam ter sofrido ataques e assédio online dizem acreditar que há aspectos das plataformas digitais que agravaram a violência sofrida por eles.
Quando pedimos que detalhassem como isso acontece na prática, os defensores que responderam à pesquisa destacaram a natureza polarizadora dos algoritmos usados pelas plataformas digitais, a falta de investimento das plataformas em moderação e no tratamento de denúncias, o fato de muitas permitirem a atuação de trolls e bots, além das técnicas de monetização que algumas oferecem aos usuários.
Polarização
As empresas donas das redes sociais usam algoritmos que podem reforçar preconceitos e reafirmar crenças para manter os usuários engajados e maximizar o tempo na plataforma. Isso pode criar bolhas de informação, aumentar a polarização e alimentar o extremismo.
Também pode levar à disseminação de desinformação, aumento da hostilidade em relação a grupos marginalizados e até mesmo incitação à violência.
Em suas respostas à nossa pesquisa, os defensores disseram:
- “Algoritmos polarizadores aumentam o engajamento.”
- “As plataformas só divulgam conteúdo que gera polarização.”
- “Indignação gera engajamento.”
- “Comentários de ódio ganham mais força.”
- “[O algoritmo] promove a polarização.”
Falta de recursos
Quando as plataformas digitais não fornecem recursos adequados para suas equipes de segurança e integridade, conteúdos prejudiciais – como discurso de ódio, negacionismo climático e ameaças de morte – circulam livremente. Assim, fica difícil para os defensores atuarem com segurança. A internet os deixa vulneráveis a ataques e põe sua vida em risco.
Apesar disso, plataformas importantes tomaram recentemente a decisão de reduzir, em vez de aumentar, suas equipes de moderação, com (por exemplo) a Meta anunciando no início de 2025 que encerrará seu programa profissional de verificação de fatos nos EUA.
Nas respostas à pesquisa, os defensores também afirmaram que, em alguns casos:
- “O Facebook não censura ataques mesmo após denúncias.”
- “Nenhuma medida é tomada contra o assédio.”
- “Já faz mais de três anos que fizemos a primeira denúncia e as mensagens continuam aparecendo.”

Sharanya, 2025. Jonas Kako / Panos Pictures
Bots e trolls
Bots (contas automatizadas) e trolls (usuários que provocam e assediam deliberadamente os outros) podem ser usados como armas para espalhar desinformação, amplificar discursos de ódio e atingir defensores com campanhas de assédio. Isso pode causar danos à reputação, sofrimento emocional e até mesmo ameaças no mundo físico.
Os defensores que responderam à nossa pesquisa também relatam que alguns bots e trolls operam por trás de perfis anônimos, o que garante sua total impunidade.
Embora a maioria das plataformas digitais tenha políticas que proíbem contas falsas e spam, muitas vezes elas não aplicam essas regras de forma eficaz, o que acaba dando carta branca para que abusadores intensifiquem os ataques sem consequências.
Em respostas à nossa pesquisa, os defensores afirmaram que:
- “Fazendas de trolls estão espalhadas por aí. Páginas com muitos seguidores são compradas e usadas por fazendas de trolls para atingir públicos ainda maiores.”
- “A possibilidade de as pessoas permanecerem anônimas é um problema, assim como a facilidade com que podem duplicar contas.”
- “O anonimato é um problema.”
- “As plataformas facilitam a atuação de trolls que contaminam os debates sobre ciência e mudanças climáticas.”
- “Contas anônimas promovem ataques online sem qualquer censura dos provedores de serviços.”
- “É muito fácil criar contas anônimas em plataformas digitais que fomentam assédio e ódio.”
- “O algoritmo promove a ‘atividade’, seja de robôs ou de seres humanos. O anonimato é, claro, outro fator, pois impede as pessoas de tomarem medidas legais.”
Monetização
Algumas plataformas digitais permitem que os usuários ganhem dinheiro com conteúdo por meio de anúncios, patrocínios e doações. Esse sistema pode ser explorado para financiar e incentivar ataques a defensores, como quando influenciadores ou anunciantes lucram com a disseminação de ódio ou desinformação.
Pode também desestimular as plataformas a tomarem medidas contra conteúdo prejudicial se ele estiver gerando receita.
Um defensor da Colômbia nos disse: “Eles investiram deliberadamente em conteúdo patrocinado para garantir que sua narrativa falsa alcançasse o maior número de pessoas possível, manipulando a opinião pública e tentando destruir nossa reputação.
Não foi apenas uma postagem espontânea; foi uma campanha difamatória calculada, com uso de promoção paga para amplificar mentiras e fazê-las parecer verdade. Eles usaram as redes sociais como armas, garantindo que a difamação fosse vista por milhares de pessoas, ao mesmo tempo em que fingiam estar do lado da conservação.
“Esse tipo de ataque não é apenas antiético, mas também expõe as reais intenções por trás de suas ações: nos desacreditar e justificar sua tentativa de tomar nossa terra.”
Muitas das entrevistas com defensores que embasaram este relatório também abordam questões de polarização, recursos, bots e trolls.

Jörg, 2022. Johanna Lohr / Global Witness
Jörg, Alemanha
‘Sou padre da Companhia de Jesus, também conhecida como Ordem dos Jesuítas. Durante anos, tentei ajudar a defender soluções climáticas, mas sofri tantos ataques nas redes sociais que interrompi meu ativismo online.
Eu me envolvi na luta contra as mudanças climáticas em 2021, quando um grupo de ativistas entrou em greve de fome antes das eleições com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre o impacto das mudanças climáticas nas gerações mais jovens.
Depois disso, passei a participar do movimento climático alemão com a intenção de chamar a atenção para o desperdício de alimentos. Uma vez, retirei comida do lixo, distribuí em público e pedi à polícia para prender o criminoso (no caso, eu).
Em certas situações justificadas, com bons motivos ou narrativas, também apoiei alguns jovens ativistas que estavam bloqueando estradas na Alemanha para simbolizar a perturbação que as mudanças climáticas estão causando.

Jörg on 28 October 2022 with activists from the groups Scientists Rebellion, Extinction Rebellion and Last Generation blocking the Karlsstraße in Munich to draw attention to climate policy grievances. Sipa US / Alamy Stock Photo
No fim, acabei com dez processos judiciais contra mim por causa desse ativismo, e esses casos foram amplamente divulgados na mídia.
Foi depois disso que os ataques nas redes sociais começaram. Eu estava no Facebook, Instagram, Mastodon e Twitter (como era conhecido na época), mas não era muito ativo. Depois que essas reportagens saíram na mídia, meu perfil nas redes sociais cresceu.
Minha contagem de seguidores no X (antigo Twitter) aumentou de 500 para 13.000 do dia para a noite e, desde então, tem se mantido nesse nível.
Também entrei no TikTok a pedido dos ativistas mais jovens – já que essa plataforma é fortemente influenciada por propaganda populista e extremista em apoio ao AfD, o partido mais à direita da Alemanha, e os jovens queriam organizar uma narrativa pública alternativa.
Para mim, o discurso no Facebook, Instagram e Mastodon tem sido bastante civilizado. Mas no X e no TikTok, o nível é baixíssimo.
Muitas contas falsas no X e no TikTok me acusaram das piores coisas – desde duvidar da minha inteligência e sinceridade até sugerir que, por ser padre católico, estou apoiando esses jovens ativistas climáticos apenas por algum motivo sexual degenerado. Já ameaçaram me bater e me matar.
Também recebi mensagens anônimas dizendo coisas como: “se eu te vir na rua, vou te atropelar”.
Denunciei algumas dessas ameaças às plataformas, mas elas simplesmente disseram “estamos investigando, por que vocês não bloqueia essas pessoas?”. Às vezes eu bloqueio e silencio essas contas, mas isso não resolve o problema.


Não procurei a polícia porque a polícia também não pode fazer nada. Todas essas contas são falsas ou anônimas. Ameaças anônimas dificultam o trabalho da polícia. Dada a ausência de provas sobre quem está por trás das contas falsas, é quase impossível para a polícia investigar os crimes cometidos por elas. A polícia registra a sua reclamação e imediatamente encerra o caso.
A maioria dos ativistas com quem trabalhei recebeu ameaças semelhantes e continua sem se deixar intimidar. Tentei fazer o mesmo durante anos. Mas em 2023 ficou pesado demais para mim. Eu não tinha condições de pagar todas as custas judiciais e também não queria mais viver com medo. Então, parei com meu ativismo.
No entanto, os insultos continuam, pois ainda apareço na mídia por causa dos processos judiciais ou, recentemente, por ter sido preso.

Jörg, 2022. Johanna Lohr / Global Witness
Acredito que as redes sociais são uma grande parte do problema. É muito fácil propagar discurso de ódio nesses ambientes.
Aposto que se as pessoas que estão ameaçando me matar nas redes sociais me encontrassem amanhã na rua, teríamos uma conversa civilizada, porque olharíamos nos olhos um do outro. Mas se você simplesmente olha para a tela do computador e se sente poderoso ou com raiva, acontecem coisas online que, na vida real, não aconteceriam.
Ao mesmo tempo, é evidente que esse tipo de ódio nas redes sociais também reduz o limite para que coisas perversas se tornem aceitáveis em público. Às vezes tenho medo de que um dia eu realmente seja agredido fisicamente.
Acho que as plataformas não deveriam permitir que uma mesma pessoa tivesse muitas contas diferentes. Isso abre a porta para que todos criem contas anônimas e espalhem discurso de ódio.
Para algumas atividades, há procedimentos rigorosos de verificação de identidade dos usuários, por exemplo, para o TikTok Live. Isso deveria ser estendido a todos que desejam abrir uma conta.
Acho que a situação nas redes sociais melhoraria bastante se todos tivessem contas verificadas e se soubéssemos que estamos lidando com pessoas reais usando suas identidades reais, e não apenas com um troll, um bot ou quem quer que seja.’

Vlad, 2025. Ioana Moldova / Global Witness
Vlad, Romênia
‘Trabalho como ativista em uma ONG que luta por uma transição energética justa. Estamos tentando ajudar a acabar com a produção de energia baseada em combustíveis fósseis na Romênia e garantir que qualquer novo projeto (como energias renováveis) considere a natureza, a biodiversidade e as pessoas mais afetadas pela transição.
Usamos as redes sociais para chamar a atenção das pessoas para essas questões e compartilhar os nossos relatórios. Temos dois canais no Facebook e no Instagram que usamos para isso.
Sofremos assédio em todos esses canais. Os ataques que recebemos no Facebook são muito piores e mais agressivos do que os que recebemos no Instagram. Também somos atacados na mídia tradicional, como em noticiários na TV.

Comentários reais feitos no Facebook chamando o grupo de ‘traidores da pátria’ e ‘para vocês o pelotão de fuzilamento é pouco’, ‘são um bando de satanistas que deveriam ser presos o quanto antes!’
Os ataques contra nós parecem ser estimulados por influenciadores do Facebook. Um desses influenciadores usou seu popular canal no Facebook para nos identificar depois que nos opusemos a um projeto hidrelétrico. Compartilharam nossos nomes e pediram para o público nos escrever e “dar sua opinião”
Depois disso, recebemos muito ódio. Alguns dos agressores descobriram nossas contas pessoais no Facebook e nos enviaram mensagens diretas, inclusive para a namorada de um dos membros da equipe que não tinha nada a ver com nosso ativismo. Eles disseram coisas como “vocês têm que apodrecer na cadeia” ou “vocês têm que ser expulsos do país” porque teríamos cometido traição.
Outro influenciador fez algo semelhante, compartilhando nossos detalhes em seu canal do Facebook. Ele não disse nada diretamente – apenas republicou artigos da mídia que diziam que ativistas como nós devem ser processados.
Acho que esses influenciadores tentam ser espertos, driblar as políticas das plataformas e fazer com que outras pessoas sejam as responsáveis por nos atacar.

Vlad, 2025. Ioana Moldova / Global Witness
Vimos esses ataques migrarem do espaço online para o offline, com funcionários de mineradoras sendo usados como peões para protestar contra nós, dizendo coisas parecidas: que cometemos traição e devemos ser presos ou criminalizados.
O protesto deles foi coberto pela mídia, e eles compartilharam nosso nome e nosso rosto na TV. Pegaram a foto de uma de nossas colegas de sua conta privada no Facebook e a exibiram na televisão, o que a deixou com muito medo de sofrer ataques pessoais.
Como resultado de tudo isso, fizemos uma denúncia à agência nacional de regulação da mídia, mas não deu em nada. Em seguida, apresentamos uma queixa ao Relator Especial da ONU sobre Defensores Ambientais, que iniciou uma investigação e escreveu ao nosso ministério do meio ambiente. Infelizmente, as respostas do ministério não foram muito satisfatórias.
Também denunciamos os comentários ao Facebook, mas não recebemos nenhuma resposta concreta.
Eu gostaria de ver as redes sociais como o Facebook levando esses comentários a sério e agindo quando forem denunciados.’
Acusações de crimes na internet
Defensores são acusados de diversos crimes
Para surpresa de ninguém, os defensores relatam ser atacados principalmente por causa de seu trabalho – ou seja, seus textos e reportagens. Os agressores também costumam fazer referência à profissão dos defensores e à sua credibilidade.
Um padrão preocupante indicado pelos dados, no entanto, é que os agressores às vezes têm como alvo as afiliações políticas dos defensores e fazem referência à legalidade de suas ações ao atacá-los na internet.
Acusações relacionadas a afiliações políticas
Essa prática pode levar defensores a serem injustamente acusados de terem crenças políticas subversivas, independentemente de suas verdadeiras afiliações, como no caso de acusações de serem comunistas em países com forte sentimento anticomunista, prática muitas vezes conhecida como red-tagging ou “marcação vermelha”.
Nos resultados de nossa pesquisa, defensores da Ásia e da Europa relataram maior frequência de ataques com base em supostas afiliações políticas.
Nove em cada dez defensores das Filipinas que responderam a essa pergunta, e quatro em cada cinco defensores da Dinamarca, afirmam ter sido alvo de ataques com base em afiliações políticas.

Jonila Castro, juntamente com a colega ativista Jhed Tamano, teriam sido rotuladas de comunistas após trabalharem com comunidades costeiras que resistiam a obras de aterramento da Baía de Manila. Raffy Lerma / Global Witness
Criminalização
Essa prática faz com que defensores sejam injustamente acusados de ilegalidade, mesmo quando suas ações são legais, como quando manifestantes pelo clima são tachados de terroristas ou ameaças à segurança nacional.
Ambas as práticas são usadas como táticas para intimidar, difamar e deslegitimar ativistas por causa de seu trabalho, que é na verdade legítimo. Eles não apenas minam a credibilidade dos defensores, mas também os expõem à violência e ao estigma social, separando-os das comunidades onde vivem e trabalham.
Ao enfraquecer os defensores na internet, aqueles que estão no poder conseguem com mais facilidade criminalizá-los no mundo físico, criando uma sequência constante de acusações e suspeitas que podem ser amplificadas em outros espaços e usadas em processos judiciais.
Ao enquadrar a resistência dos defensores como ilegal, aqueles que estão no poder também podem tentar justificar a grilagem de terras, o desmatamento e a exploração predatória de recursos, desviando a atenção das reais violações ambientais e de direitos humanos que estão ocorrendo.

Manifestantes protestam contra a sentença desproporcional de três ativistas do Just Stop Oil em Londres, Reino Unido. Global Witness
Nos resultados da nossa pesquisa, 35% dos defensores que sofreram ataques e assédio online disseram que também receberam ameaças de criminalização fora da internet, e 30% disseram que foram de fato criminalizados (por exemplo, presos).
Defensores na Europa relatam índices bastante elevados de perseguição por meio de acusações que questionam a legalidade de suas ações.
Acusações de extremismo político e criminalização também surgem como temas em quase todas as entrevistas com defensores feitas para este relatório, com alguns desses defensores relatando que ataques online resultaram em prisões e processos judiciais na vida real.

Fatrisia, 2025. Sarjan Lahay / Global Witness
Fatrisia, Indonésia
‘Moro na ilha de Sulawesi, onde muitas comunidades rurais tiveram suas terras confiscadas por meio do programa de incentivo à plantação de óleo de palma da Indonésia. Faço parte de um coletivo local de mulheres que lutam para recuperar seus direitos à terra.
Nos últimos três anos, fomos atacadas em casa, na rua, durante protestos e na internet.
O Facebook é muito popular na nossa região e é ele que devemos usar para defender a nossa causa. Eu sou atacada constantemente nessa plataforma. Agressores não identificados tiraram fotos da minha conta pessoal do Instagram e as publicaram em páginas de grupos do Facebook com muitos seguidores.

Postagem real no Facebook marcando Fatrisia como comunista. É apresentado como uma atualização de notícias locais, chamando Fatrisia de comunista que estaria a serviço de grupos de fora da região tentando impedir investimentos
Essas postagens estavam cheias de discurso de ódio e mentiras sobre mim. Eles me acusaram de ser comunista, o que é uma acusação muito séria na Indonésia. Eles me acusaram também de formação de quadrilha para enganar os agricultores e pediram minha prisão imediata.
Também disseram que há rumores de que estou tendo um caso com um colega ativista, o que é outra alegação séria na Indonésia, já que sou mulher, jovem e solteira. Acho que eles estão tentando me humilhar e tirar minha credibilidade.
Também fui atacada no Instagram. Às vezes, falamos ao vivo no Instagram durante nossos protestos. Várias vezes, recebemos insultos através de comentários de certos usuários.
Pedi à Meta, dona do Facebook e do Instagram, para remover as postagens, mas eles não fizeram nada.

Fatrisia e membros da comunidade, 2025. Sarjan Lahay / Global Witness
Também fui atacada na vida real, fora da internet. Junto com outras pessoas, sofri agressões e assédio sexual durante alguns protestos.
Esses ataques afetaram profundamente a mim e a outras mulheres do meu coletivo. Nossa organização não tem recursos financeiros para pagar por apoio psicológico. Também precisamos trabalhar na lavoura, vender alimentos e fazer alguns bicos para pagar nossas contas e sustentar nossa família, além do trabalho na defesa de nossa causa. O fardo físico e mental é muito pesado.
Nós nos sentimos exaustas porque precisamos nos explicar o tempo todo a parentes e amigos que descobrem os ataques no Facebook e no Instagram. Eles ficam preocupados conosco ou temem que isso seja verdade.
A parte mais difícil para mim foi quando parentes foram até a casa da minha família e contaram aos meus pais sobre os ataques no Instagram e no Facebook. Meus pais ficaram muito preocupados e me imploraram para parar. Foi muito difícil porque não estou preocupada apenas em me proteger, estou preocupada em proteger meus pais também.
Gostaria de ver a Meta mudar suas políticas para que o impacto desses ataques fosse reconhecido. E eu gostaria que as pessoas que me atacam online não pudessem permanecer anônimas.’

Lucília, 2025. Angela Ponce / Global Witness
Lucília, Peru
‘Sou engenheira florestal e há mais de 20 anos luto ao lado de líderes indígenas contra a extração ilegal de madeira, o desmatamento, o garimpo ilegal e os crimes ambientais na Amazônia peruana.
Luto para proteger as florestas tropicais e sua extraordinária biodiversidade de empresas agropecuárias nacionais e internacionais que acredito estarem envolvidas em violência fundiária e desmatamento no Peru. Em resposta, acredito que essas empresas financiaram campanhas agressivas de difamação contra mim na internet.
Nos últimos cinco anos, enfrentei um assédio implacável – online, na mídia tradicional e em processos judiciais. A reação foi tão violenta que até o ministério da justiça e direitos humanos do Peru me concedeu medidas de proteção como defensora ambiental. Fui a primeira pessoa no Peru a receber tal medida pelo mecanismo estatal de proteção a defensores ambientais.
Infelizmente, nos últimos meses, essas medidas se revelaram meramente simbólicas. Na prática, elas não conseguiram impedir as ameaças contra mim e minha família.

Real Facebook post suggesting that Lucilia is money laundering and denouncing Indigenous communities "that don’t align with her unhealthy interests"
Enfrentei intensa pressão e abuso de agentes políticos e da mídia que acredito serem apoiados por interesses corporativos. Na minha opinião, suas ações – incluindo vigilância e assédio online – têm a intenção de me intimidar e atrapalhar nossas investigações sobre crimes ambientais.
Tenho visto falsas alegações aparecerem em certos meios de comunicação, me acusando de desvio de recursos e ocultação de divisas no exterior. Essas alegações circularam livremente no Facebook, TikTok, YouTube e X, embora autoridades nacionais e internacionais tenham emitido declarações desmentindo-as.
Pedi às plataformas que removessem essas acusações, mas elas se recusaram, alegando que não podem agir até que os casos judiciais relacionados sejam resolvidos.

Lucília, 2025. Angela Ponce / Global Witness
Agora estou sob investigação por lavagem de dinheiro, um caso sem nenhuma base legal ou factual. Estou lutando contra essas acusações falsas, mas a batalha jurídica tem me esgotado financeiramente. Apenas 40% dos meus custos de defesa foram cobertos por três organizações de apoio; o resto veio do meu próprio bolso, afetando severamente meu sustento em meio ao assédio constante.
Eu sei o quanto essa luta é difícil. Alguns dos líderes indígenas com quem convivi foram mortos. Mas, apesar de tudo, eu não me dou por vencida. Eles não vão nos intimidar. Um dia, terei que lidar com o peso emocional de tudo isso, mas, por enquanto, continuo firme e forte.’
Gênero e sexo: um tema central
Defensoras relatam ameaças direcionadas ao seu gênero
Outro tema que surgiu nas entrevistas realizadas para este relatório é que as mulheres são alvos constantes de ataques online, muitas vezes por meio de ameaças sexualizadas, e estão sendo silenciadas na luta pelo clima.

Muitas defensoras na pesquisa relataram sofrer violência de gênero na internet, incluindo ameaças de estupro e assédio sexual. James Rodriguez / Global Witness
Muitas das defensoras que concordaram em ser entrevistadas para este relatório descreveram ataques online de natureza sexual, incluindo ameaças de estupro e falsas alegações de relações sexuais com colegas ativistas.
Quase um quarto dos defensores que relataram ter sofrido ataques online dizem que foram atacados com base em seu sexo, e quase um quinto deles dizem que foram atacados com base em sua identidade de gênero.
Em vários casos, as defensoras que responderam à pesquisa disseram que essas ameaças online se traduziram em danos na vida real, incluindo assédio sexual, ameaças de violência sexual e agressão.
Essas descobertas corroboram inúmeras investigações de outros países (e das Nações Unidas) que mostram que as mulheres têm maior probabilidade de serem alvos de ataques online, com várias formas de abuso e assédio, em comparação aos homens. Isso inclui abuso sexual e de gênero, que geralmente é mais grave e psicologicamente prejudicial para as mulheres. As mulheres também são mais propensas a sofrer os impactos negativos dos ataques online, sentindo-se mais inseguras e acabando por se afastar dos espaços online.
As descobertas também sustentam investigações anteriores da Global Witness, que mostram que redes sociais aprovaram anúncios contendo discurso de ódio violento direcionado a mulheres e à comunidade LGBTQ+.
Apoiam também as conclusões da investigação de 2023 da Global Witness sobre ataques online a cientistas do clima, que revelou que mulheres cientistas foram alvos mais frequentes por causa de sua aparência e mais ameaçadas de violência.

Disha, 2023. Julien de Rose / AFP via Getty Images
Disha, Índia
“Meu nome é Disha. Sou ativista pela justiça climática e uma das fundadoras do Fridays For Future na Índia. Meu trabalho se concentra na proteção de direitos fundiários e florestais e na interseção desses direitos com os direitos digitais, principalmente porque não podíamos estar em campo durante a pandemia, então tivemos que fazer campanha online.
“Em 2020, durante o lockdown, nós nos organizamos contra um projeto de lei de Avaliação de Impacto Ambiental que facilitaria a obtenção de autorizações para projetos de infraestrutura, eliminando o processo democrático no qual as pessoas afetadas poderiam se manifestar.
“Fizemos uma campanha digital, incluindo mutirões no Twitter, incentivando as pessoas a participar da consulta pública feita pelo Ministério. Juntos, diversos movimentos mobilizaram cerca de dois milhões de pessoas a participar da consulta, e o projeto de lei não foi aprovado devido à grande pressão pública.
“A resposta foi uma grande repressão. O governo bloqueou nosso site e alegou que éramos uma ameaça à paz e à soberania da Índia. Eles informaram a polícia de Délhi e usaram a lei antiterrorismo da Índia contra nós, mesmo que nós estivéssemos apenas incentivando a participação pública.
“Ninguém foi preso na época graças ao apoio da Internet Freedom Foundation, que preparou uma resposta, mas a ameaça continuou pairando sobre nós.
“Eu me lembro de, uma vez, ter criticado um líder espiritual. Seus seguidores ficaram furiosos. Começaram a marcar grupos jurídicos de direita nos meus tweets. Um dos meus tweets teve mais de 300 comentários. Depois disso, reduzi minhas postagens porque percebi que isso poderia se transformar rapidamente em um processo judicial ou ganhar grandes proporções fora da internet.

Manifestantes exigem a libertação da ativista climática indiana Disha Ravi. Aijaz Rahi / AP Photo
“Muitos dos abusos são relacionado a questões de gênero. Não é apenas o meu trabalho que incomoda – eles me atacam como mulher. Questionam minha inteligência, me ofendem, dizem coisas sobre meus pais, sobre como fui criada. Há ameaças de violência sexual.
“Se você for mulher, sempre vão falar da sua aparência, do seu caráter, da sua família. Existe um ódio absoluto que desconsidera o que você está dizendo e tenta destruir ativamente o trabalho que você faz. Dá bastante medo.
“Essas agressões nos deixaram mais cautelosos sobre o que postávamos na internet. Não compartilhamos atualizações em tempo real porque não queremos chamar a atenção e prejudicar nossas atividades. Quando falamos sobre a Palestina, tema sobre o qual nos manifestamos bastante nas redes sociais, recebemos muito ódio.
“Nunca mais atualizei meu LinkedIn porque tenho receio de ser exposta. Parece que, se eu compartilhar qualquer coisa, alguém vai tentar usar isso contra mim ou me encontrar. É muito fácil – se alguém souber seu nome completo, pode procurar por você, descobrir onde você trabalha, encontrar seu endereço.
“Na minha experiência, o Twitter é a pior plataforma para isso. Acho que os abusos lá são em uma escala diferente – é muito fácil algo polêmico viralizar de verdade e alcançar pessoas fora da sua bolha. Acho que o Instagram não oferece a mesma facilidade para trolls e não somos muito ativos no Facebook.
“Eu geralmente bloqueio pessoas no Twitter porque fico com medo. Já fiz várias denúncias ao Twitter, mas não me lembro de ter recebido nenhuma resposta positiva. Uma hora, desisti de denunciar e simplesmente comecei a bloquear todo mundo.
“Acho que as plataformas precisam levar isso a sério. Sim, a liberdade de expressão é importante. Mas isso não significa que as pessoas devam ter permissão para ameaçar com violência ou realizar campanhas coordenadas de assédio.”

Annika, 2025. Unwisemonkeys / Global Witness
Annika, Dinamarca
‘Estou envolvida no ativismo ambiental de base na Dinamarca desde 2019. Nesse período, participei de muitos grupos diferentes de ativistas climáticos e documentei as experiências que meus colegas tiveram online e offline. É triste constatar um aumento real na repressão aos ativistas climáticos e na intensidade dos ataques na internet nos últimos cinco ou seis anos.
Pelo que tenho visto, as ativistas femininas são as que mais sofrem ataques online. É muito comum uma mulher aparecer na mídia tradicional falando sobre uma questão climática e, no dia seguinte, sua caixa de entrada estar inundada de mensagens de ódio, às vezes até ameaças de morte e de estupro. É muito fácil usar o nome de alguém para encontrar seu perfil nas redes sociais, seja ele público ou não. Pelo que percebo, quase todas essas ameaças vêm de homens.
Tenho visto ativistas sendo atacadas em todas as plataformas: Twitter (ou X, como é conhecido agora), Facebook e Instagram. Já vi capturas de tela de diversos ataques.
A Dinamarca, como outros países escandinavos, tem a tradição de ser uma sociedade aberta, na qual qualquer pessoa pode acessar o endereço e o número de telefone de outra. Mas muitos porta-vozes de grupos climáticos estão optando por esconder seus endereços e números de telefone atualmente por questões de segurança, e a maioria desses porta-vozes são mulheres.
![Real comments made on women defender’s Facebook pages including "Looks like someone who could use some meat. Looks a little starved [sexual connotation]", "She is stupid to listen to such a madman" and "Screw crazy woman person [derogatory Danish term]"](https://gw.cdn.ngo/media/images/DT_Defenders_screenshots_AW11.width-929.png)
Comentários reais feitos nas páginas do Facebook de algumas defensoras incluem: ‘Parece que alguém está querendo linguiça. Tá com cara de quem tá passando fome’ [conotação sexual]; ‘Essa aí é muito burra por ouvir um maluco desses’
Trabalhei em grupos que organizaram protestos climáticos que bloquearam estradas e atrapalharam o trânsito. Em resposta a isso, já vimos líderes políticos dizendo que ‘até entenderiam se alguém passasse com o carro por cima dos ativistas’.
Esse tipo de discurso na internet e na imprensa legitima a violência na vida real. O discurso que vemos na internet e na mídia sensacionalista abre espaço para a violência física.
Todo esse abuso está tendo um efeito assustador no movimento climático da Dinamarca, porque as pessoas estão com medo. E fica muito mais difícil ser eficaz como ativista, porque os ativistas precisam de atenção na mídia tradicional para transmitir sua mensagem de ação climática. Mas assim que aparecem na mídia, são atacados na internet. É uma escolha muito difícil.
Teoricamente, os ativistas podem tentar bloquear conteúdos abusivos. Mas isso é muito difícil na prática. As pessoas denunciam alguns ataques, mas não me lembro de isso ter funcionado em nenhum momento.

Annika, 2025. Unwisemonkeys / Global Witness
Acho que isso acontece porque, para algumas pessoas, a internet é uma terra sem lei. Tem gente que trata o espaço online como um lugar sem regras, regulação, moralidade ou etiqueta social. As pessoas dizem coisas online que nunca diriam na cara de ninguém.
E isso está tendo um efeito enorme no ativismo climático porque todo mundo passa muito tempo na internet vendo esses ataques. E acho que é aí que vemos o efeito assustador disso transparecer na vida real.
As empresas de tecnologia deveriam ser responsáveis por limitar o discurso de ódio e o assédio, mas todos sabemos que politicamente as coisas estão indo no sentido contrário. Também precisamos que os algoritmos mudem para deixar de promover conteúdo polarizador. E eu gostaria de ver os moderadores de conteúdo sendo tratados de forma justa, recebendo um salário justo e em condições de trabalho decentes.’

Annika, 2025. Unwisemonkeys / Global Witness
Conclusão
Ataques a defensores da terra e do meio ambiente prejudicam a todos nós
Se os defensores não puderem atuar com segurança na internet, perderemos o acesso a vozes importantes na luta pelo nosso planeta.
Nossa pesquisa e as entrevistas com defensores realizadas para este relatório demonstram que os ataques online têm um efeito paralisante sobre o movimento climático. Defensores relataram perda de produtividade devido aos ataques e um deles afirmou ter abandonado completamente o ativismo.
É imprescindível que qualquer empresa de redes sociais que afirme se preocupar com o clima tome medidas imediatas para proteger aqueles que estão em maior risco, incluindo os defensores. Na melhor das hipóteses, esses espaços online podem ter um efeito democratizador, mas somente se priorizarem a inclusão e a segurança para garantir um debate saudável.
Reformas e recomendações
Nossa pesquisa apresenta uma visão sobre os desafios que os defensores enfrentam nas redes sociais. A Meta é dona de três das quatro plataformas onde mais defensores relataram ter sido atacados (Facebook, WhatsApp e Instagram), sendo o X a outra.
Não é a primeira vez que essas plataformas tomam conhecimento desses problemas. Uma pesquisa da Global Witness de 2023 com 468 cientistas do clima revelou que 39% sofreram assédio online relacionado ao seu trabalho, com esse número subindo para 49% entre cientistas mais conhecidos.
A pesquisa anterior descobriu que os ataques a cientistas do clima ocorreram principalmente no Twitter (ou X) e no Facebook.

Novo exemplo da investigação Global Hating
E em novembro de 2024, na época das eleições nos EUA, uma investigação da Global Witness descobriu que os sistemas de moderação da Meta estavam tendo dificuldades para acompanhar o discurso de ódio, permitindo que ataques acontecessem livremente nas páginas de candidatos ao senado americano.
No entanto, ao invés de envidar maiores esforços para lidar com os danos causados pelos ataques, essas plataformas fizeram exatamente o contrário. Desde que publicamos nossa pesquisa anterior, tanto o X quanto a Meta implementaram mudanças que, na realidade, podem ter contribuído para reduzir a proteção dos usuários.
Em 2023, o X encerrou seu recurso de denúncia de informações enganosas e, no ano anterior, dissolveu seu conselho de confiança e segurança, que lidava com questões como discurso de ódio e assédio desde 2016.
O X afirma que as medidas para combater a desinformação foram substituídas pelas notas da comunidade, um sistema de crowdsourcing em que os colaboradores contextualizam e verificam os fatos das postagens.
No entanto, pesquisas recentes sugerem que o sistema pode não estar preparado para lidar com narrativas prejudiciais e desinformação, como os exemplos apresentados em nosso relatório.
Em 2024, o X também anunciou que havia contratado mais de 100 moderadores de conteúdo internos, mas esse número é consideravelmente menor do que os 1.500 moderadores usados pela empresa antes das mudanças sob o comando de Musk.
Em 2023, a Comissão Europeia abriu um processo formal para avaliar se o X violou a Lei de Serviços Digitais em áreas relacionadas a gestão de riscos, moderação de conteúdo, padrões enganosos (dark patterns), transparência em publicidade e acesso a dados por pesquisadores.
Embora as conclusões preliminares da Comissão Europeia se concentrem nas supostas falhas do X em relação à transparência publicitária e ao acesso a dados públicos, a Comissão identificou evidências de que agentes mal-intencionados têm abusado do sistema de “contas verificadas” da plataforma para enganar os usuários. Se comprovadas, essas acusações podem resultar em multas pesadas.
A Meta anunciou em janeiro de 2025 que encerraria seu programa de verificação de fatos de terceiros nos Estados Unidos, substituindo-o por um modelo de notas da comunidade semelhante ao do X, além de flexibilizar suas políticas sobre discurso de ódio.
Essa mudança, apresentada como um esforço para promover a liberdade de expressão, levantou preocupações sobre a disseminação de desinformação e discurso de ódio.
Assim como o X, a Meta também incentiva os usuários a bloquear, silenciar e/ou denunciar contas abusivas, embora nossa pesquisa indique que os abusos denunciados muitas vezes não são abordados de forma eficaz.
Essas mudanças coletivas em ambas as plataformas aumentaram as preocupações sobre sua suscetibilidade a abusos e proliferação de conteúdo prejudicial.
Em março de 2025, a Global Witness contribuiu para uma análise da sociedade civil que concluiu que empresas de redes sociais como Meta e X não conseguiram avaliar e abordar adequadamente os riscos reais e previsíveis representados por seus serviços, apesar de as regras da UE exigirem uma atitude a esse respeito.

Sharanya, 2025. Jonas Kako / Panos Pictures
Um modelo de negócios que promove abusos
As empresas de redes sociais obtêm a maior parte de seus lucros com publicidade, e o produto que elas vendem aos anunciantes é a atenção de seus usuários. Para manter a atenção dos usuários pelo maior tempo possível, essas empresas costumam testar diferentes tipos de conteúdo e monitoram de perto o que mais prende o interesse. Com isso, os algoritmos das plataformas acabam promovendo desinformação manipuladora ou conteúdos projetados para provocar raiva (rage baits).
Ao impulsionar esse tipo de material, essas plataformas contribuem para a disseminação de mentiras perigosas, a polarização social e até mesmo a violência. Isso também dificulta que os usuários distingam fato de ficção e compromete o avanço de ações coletivas diante da emergência climática.
Já está claro há algum tempo que empresas como X e Meta precisam resolver esse problema, permitindo avaliações independentes de seus algoritmos e se comprometendo a respeitar a segurança e os direitos dos usuários.
Um retorno à moderação de conteúdo responsável?
Desde o início, os esforços de moderação de conteúdo do X e da Meta foram imperfeitos e inconstantes. Todavia, desde a eleição de Donald Trump nos EUA, os padrões caíram ainda mais, com ambas as plataformas dobrando a aposta em sua abordagem e priorizando a “liberdade de expressão” em detrimento da segurança dos usuários.
Como mostra nossa pesquisa, essa abordagem prejudica a liberdade de expressão e outros direitos.
Ao disponibilizar recursos adequados para seus sistemas de moderação de conteúdo, as plataformas digitais podem ajudar a reduzir a amplificação e a disseminação de desinformação sobre questões fundamentais como as mudanças climáticas, bem como reduzir a circulação de conteúdo incendiário ou de ódio.
Ao mesmo tempo, investir em processos de moderação robustos pode ajudar a resolver o crescente problema de spam que congestiona feeds e incomoda usuários comuns, melhorando a qualidade geral e a confiabilidade da experiência para todos.
As plataformas devem oferecer apoio adequado a moderadores no mundo todo e nos diferentes idiomas usados na plataforma, incluindo o pagamento de salários justos, o direito à sindicalização e a prestação de apoio psicológico.
Devem revisar regularmente a eficácia de seus processos, solicitar contribuições externas e divulgar suas ações e descobertas aos usuários.
A alocação de recursos é uma escolha. Tanto a Meta quanto o X têm o poder de ajudar a resolver esse problema. Isso não só beneficiaria os usuários mais vulneráveis, como os defensores e o movimento climático em geral, mas também ajudaria a melhorar a experiência online para usuários comuns.
Demos ao Google, à Meta, ao TikTok e ao X a oportunidade de comentar nossas principais descobertas.
A Meta nos direcionou para sua Central de Segurança e recursos sobre prevenção de bullying e assédio, que incluem um recurso de “palavras ocultas” que permite aos usuários filtrar comentários ofensivos e mensagens diretas, e “limites”.
O TikTok nos direcionou às suas Diretrizes da Comunidade sobre assédio e bullying e afirmou que não permite declarações ou comportamentos que assediem, rebaixem ou intimidem outras pessoas.
O TikTok também disse que, entre janeiro e março de 2025, 91% dos vídeos removidos pelo TikTok por violar políticas sobre assédio e bullying foram removidos proativamente antes de serem denunciados.
As outras empresas não quiseram comentar.
Metodologia
Enviamos o convite para a pesquisa por email para diversas organizações, coalizões e parceiros confiáveis, publicamos em nossos canais nas redes sociais e pedimos aos defensores que divulgassem a pesquisa como achassem melhor.
E, sempre que estávamos em ambientes físicos ou virtuais onde defensores provavelmente estariam presentes (como em uma conferência internacional sobre direitos digitais), incentivamos os participantes a responder à pesquisa e a compartilhá-la com outras pessoas.
Sabíamos que queríamos alcançar o maior número possível de defensores, o que significa que alguns deles podem ter recebido a pesquisa sem nunca terem tido contato prévio com a nossa organização ou com a plataforma que hospedou a pesquisa online, a Survation.
Portanto, sabíamos que havia o risco de que as taxas de resposta fossem menores que em outras pesquisas.
Para mais informações sobre as dificuldades de criar uma amostra representativa de defensores, consulte a seção ‘nota sobre a amostra: pesquisa com defensores da terra e do meio ambiente’.
Para responder à pesquisa, pedimos aos participantes que se autodenominassem defensores da terra e do meio ambiente (ou, como definimos, qualquer pessoa que se considere “alguém que protege ativamente sua casa, o meio ambiente e/ou o clima”).
A pesquisa foi realizada entre 5 de novembro de 2024 e 18 de março de 2025. Veja os resultados completos.
As taxas de resposta variaram conforme a região. Relatamos apenas os resultados regionais de regiões que tiveram mais de 15 respostas, o que, na prática, significa que não incluímos dados da América do Norte e da Oceania. Ao todo, 204 pessoas responderam à nossa pesquisa.
Também pudemos falar diretamente com um pequeno grupo de defensores para ouvir sobre suas experiências com mais detalhes. Essas entrevistas estão incluídas no relatório como citações diretas e testemunhos. Devido à natureza dessas contas e à complexidade dos danos, nem sempre conseguimos verificar todas as alegações de forma independente.
Apresentamos todos os percentuais da pesquisa arredondados para o número inteiro mais próximo.
Traduzimos a pesquisa para francês, espanhol, português, filipino e bahasa indonésio.
Resource Library
Relatório: Plataformas tóxicas, planeta em colapso
Download Resource