Desde 2019, trabalhamos para revelar o papel do maior frigorífico do mundo e seus financiadores no desmatamento da Amazônia no Pará. Nossa nova ferramenta rastreia os casos de desmatamento possivelmente relacionados à cadeia produtiva indireta da JBS na região e marca a JBS no Twitter para informar a empresa. Também usaremos essa ferramenta para alertar seus financiadores. 

A JBS não está conseguindo impedir suas atividades de contribuírem para o desmatamento da maior floresta tropical do mundo, um bioma essencial para a manutenção do clima global. Até que a empresa elimine completamente o desmatamento e as violações dos direitos humanos de sua cadeia produtiva, acreditamos que instituições financeiras sérias não devem financiar suas atividades.  

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Todas as vezes que pesquisamos sobre o desmatamento no Brasil, essa, que é uma das maiores empresas de alimentos do mundo, está envolvida. Você talvez nunca tenha ouvido falar dela, mas essa empresa multibilionária processa mais carne do que qualquer outra no mundo

A empresa se chama JBS e é apoiada por uma série de bancos e financiadores conhecidos internacionalmente, como HSBC, Santander e BlackRock. Em 2021, seu faturamento alcançou um recorde de 65 bilhões de dólares. É mais do que todo o PIB da Costa Rica. 

Por meio dos chamados 'Termos de Ajustamento de Conduta', a JBS é legalmente obrigada a não comprar de fazendas que desmataram ilegalmente na Amazônia. Contudo, a última auditoria oficial das fazendas que abastecem diretamente a JBS no Pará revelou que 16,7% delas – ou seja, uma em cada seis – praticou desmatamento para abrir pastagem para o gado. E essas são apenas as fazendas que fornecem carne diretamente para a JBS. 

A única boa notícia é que existem servidores públicos monitorando a cadeia abastecimento direta da JBS – e responsabilizando os envolvidos. Graças ao trabalho de alguns Procuradores Federais, com quem compartilhamos informações, a JBS foi multada em quase um milhão de dólares e forçada a dispensar diversos fornecedores.

Infelizmente, porém, essa análise cuidadosa não se estende às fazendas que vendem gado para a maioria dos fornecedores diretos da JBS. A JBS adquire duas vezes mais gado de fornecedores indiretos do que de seus fornecedores diretos – portanto, sua exposição ao desmatamento é muito maior na cadeia indireta. Estimativas conservadoras da Chain Reaction Research sugerem que a pegada de desmatamento desses fornecedores indiretos pode ter alcançado impressionantes 1,5 milhão de hectares nos últimos 15 anos. 

Quando levantamos essa questão junto à JBS, a empresa alegou que ainda não era possível rastrear esses casos específicos de desmatamento. Porém, afirmaram que isso começaria a ser feito até 2025

Em outras palavras, uma quantidade desconhecida da carne bovina que a JBS comercializa atualmente vem de rebanhos criados em terras que até recentemente eram florestas nativas intocadas. Florestas que são absolutamente fundamentais para limitar o aquecimento do nosso planeta a 1,5°C. Florestas que estão se aproximando perigosamente de um ponto de inflexão ecológico irreversível, que pode alterar para sempre o regime de chuvas no continente – com profundas consequências para o clima global.

Brazil Big Beef Watch

Para ajudar a JBS, lançamos o Brazil Big Beef Watch no Twitter (@bigbeefwatch) para alertar a empresa e o público toda vez que uma fazenda que vende indiretamente para a JBS estiver ligada a um caso de desmatamento no Pará. Digamos que estamos dando à maior empresa de proteína animal do mundo uma assessoria gratuita sobre onde procurar para garantir que ela não contribua para a aceleração do desmatamento. Também compartilhamos esses tweets com as instituições financeiras que apoiam a JBS para que todo mundo fique sabendo. 

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Funciona assim

Alertas de desmatamento são publicados regularmente pelo projeto MapBiomas. Esses alertas incluem a extensão espacial do desmatamento e podem ser prontamente sobrepostos aos dados de propriedades rurais. Esses dados de propriedade da terra podem, por sua vez, ser vinculados a guias de trânsito animal que conectam fornecedores a compradores em cada etapa da cadeia de abastecimento da carne bovina.

Sempre que um alerta de desmatamento é acionado, nosso bot verifica grandes volumes de dados de trânsito animal para determinar se o caso ocorreu em uma fazenda que faz parte da cadeia indireta da JBS.

Para que uma fazenda seja considerada um fornecedor indireto, ela deve ter vendido gado para um fornecedor direto da JBS mais de uma vez, e pelo menos uma vez desde o início de 2020. Os fornecedores diretos também devem ter negociado com a JBS em até 24 meses após o recebimento do gado da fazenda, desde que o gado seja do mesmo sexo e tenha a mesma idade ou mais. Não foram incluídas as fazendas que venderam gado diretamente para a JBS a qualquer momento.

É claro que a JBS também poderia levantar essas informações e fazer isso sozinha. Mas não faz. À medida que essas florestas tão essenciais para o clima global diminuem, estamos mostrando à empresa como proteger as áreas remanescentes.  

Mas não é apenas a JBS que deveria se envergonhar – seus financiadores também têm culpa no cartório

Atualmente, algumas das maiores instituições financeiras do mundo ainda se relacionam com a JBS: HSBC, Deutsche Bank, Credit Suisse, BNP Paribas, Blackrock, JP Morgan, Morgan Stanley e Aviva. Nossa análise de transações de investimento e crédito vai continuar focando nos bancos e gestores de ativos que financiam a gigante da carne bovina, apesar de seu contínuo envolvimento com o desmatamento.

Our analysis of investment and underwriting transactions will keep shining a spotlight on the banks and asset managers that are financing the beef giant despite its ongoing deforestation.

A JBS sabe que estamos fornecendo esse serviço gratuitamente. Em resposta à Global Witness, a JBS disse que sua “equipe técnica achou as informações fornecidas escassas e superficiais no geral, mas um melhor entendimento sobre a metodologia utilizada (bancos de dados e cruzamento de informações) seria útil para a JBS fornecer um feedback mais detalhado e robusto quando os dados forem publicados”.    

Em última análise, esperamos que a JBS faça sua devida diligência por conta própria. Até que a empresa elimine completamente o desmatamento e as violações dos direitos humanos de sua cadeia produtiva, acreditamos que instituições financeiras sérias não devem financiar suas atividades. 

Este blog foi atualizado no dia 21/04/2023 para corrigir um erro no texto original. O post original alegava que a JBS não havia respondido ao pedido de comentários feito pela Global Witness, o que estava incorreto.    

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