• Entre 2018 e 2023, o banco britânico Barclays obteve US$ 1,7 bilhão ao financiar a JBS, um gigante da carne brasileiro envolvido na invasão ilegal de territórios indígenas na Amazônia brasileira. 
  • A cadeia de suprimentos da JBS está direta e indiretamente relacionada a graves invasões de terras e a atividades de desmatamento que causaram danos significativos às comunidades indígenas e ao meio ambiente natural em Apyterewa, no estado do Pará, Brasil 
  • Como o maior credor das operações globais da JBS, o Barclays obteve mais lucros com empréstimos e taxas de subscrição para a JBS do que mais de 30 outras instituições financeiras que apoiam o grupo
  • As alegações surgem em meio à pior temporada de queimadas na Amazônia em duas décadas, devido a uma severa seca, com a maioria dos incêndios sendo intencionalmente provocados para desmatar terras para a pecuária ou cultivo

Quinta-feira, 26 de setembro, Londres – O Barclays, gigante britânico do setor bancário, obteve US$ 1,7 bilhão entre 2018 e 2023 ao financiar a JBS, uma empresa brasileira de processamento de carne envolvida na destruição de territórios indígenas no Brasil, conforme revelou uma nova investigação da Global Witness.

Entre 2018 e 2023, quase 8.000 bovinos que foram ilegalmente criados no território indígena de Apyterewa entraram na cadeia de suprimentos da JBS, segundo uma análise do Center for Climate Crime Analysis.

Publicada hoje, a investigação revelou que o Barclays foi o maior credor das operações globais da JBS nos últimos cinco anos, gerando US$ 1,7 bilhão em ganhos nesse período. 

Os dados encomendados pela Global Witness ao grupo de pesquisa holandês Profundo revelam os 10 credores mais lucrativos da JBS durante esse período, com outros grandes bancos, como o Royal Bank of Canada (US$ 1,1 bilhão), Rabobank (US$ 397 milhões) e Santander (US$ 150 milhões), também obtendo lucros consideráveis. Instituições financeiras dos EUA também obtiveram um total de US$ 660 milhões em  investimentos  globais na JBS. Os gestores de ativos Vanguard, BlackRock, Fidelity Investments e Capital Group ficaram com a maior fatia, com Vanguard e BlackRock assegurando US$ 46 milhões cada um das operações brasileiras da JBS.

A violência resultante das invasões de terras não é incomum. Membros do povo Parakanã entrevistados pela Global Witness afirmam que os conflitos de terras com agricultores invasores levaram à queima de uma de suas aldeias, a uma tentativa de assassinato de um membro da comunidade indígena e à destruição de ecossistemas biodiversos essenciais para sua alimentação, meios de subsistência e práticas tradicionais.

Koxawewoxa Parakanã, vice-presidente da Associação Indígena Tato’a e líder Parakanã, declarou à Global Witness:

Os homens brancos estão vendendo carne para o mundo inteiro, mas é a nossa terra que eles estão destruindo. Queremos que eles devolvam o dinheiro que ganharam."

Embora o financiamento direto do Barclays às operações brasileiras da JBS tenha representado apenas uma pequena parte de seu total apoio à empresa, o banco tem sido, há muito tempo, o maior financiador internacional do grupo, mantendo sua relação mesmo quando outros bancos se distanciaram do controverso processador de carne no passado.

Apesar de seu extenso histórico de destruição ambiental e corrupção, a JBS está se preparando para expandir seu acesso ao capital ao listar suas ações na Bolsa de Valores de Nova York.

Alexandria Reid, líder da Estratégia da Campanha de Florestas da Global Witness, disse:

“Essas descobertas revelam como um acordo aparentemente rotineiro feito em Nova York ou Londres pode estar ligado à invasão evitável de terras indígenas em outros lugares, desencadeando consequências devastadoras para as pessoas e o planeta. É hora de os governos implementarem novas leis que cortem o financiamento que sustenta empresas destrutivas, que não podem ser confiadas para se autorregular.

"Os governos precisam agir com urgência para responsabilizar as instituições financeiras por essas violações. Não há como enfrentar nossas crises planetárias interconectadas sem respeitar os direitos dos povos indígenas."

A Global Witness está atualmente promovendo novas regulamentações no Reino Unido, na UE e nos EUA para impedir o financiamento de empresas com sistemas inadequados de prevenção ao desmatamento.

Mais uma vez, a investigação apresenta evidências convincentes da necessidade de uma legislação robusta na indústria da carne e no setor financeiro global, destacando falhas significativas de ambos em prevenir voluntariamente a destruição ambiental e em proteger os direitos dos povos indígenas.

Todas as empresas mencionadas nesta investigação foram contatadas para se pronunciar,  e suas respostas estão detalhadas no relatório completo.